Ultimamente tenho andado bastante em casa...Não sei... Talvez pelo fato de agora eu ter um computador de verdade e ter acesso a banda larga, as ruas da COHAB e seus caminhos tortuosos não me atraem mais como antigamente, assim como eram no auge da minha adolescência um pouco rebelde, cheia de pessoas legais, divertidas e com certo conteúdo intelectual nas ruas...Prefiro ficar lendo blogs a noite inteira e ficar tendo ataques constantes de nostalgia, do que sair para a rua e ver os transeuntes drogados do meu bairro pedindo de porta em porta um “trocado aí tia pra poiá”(esperando ansiosamente juntar seus cinco pila e comprar um crack ali pertinho), te abordando com umas caras alucinadas e esperando que tu tenha um “engorde pra poiá em uma bira” ou então “ Pra poiá num cigarrinho aí dos meu” , ou pior, ver eles trocarem todo o equipamento doméstico (TV, DVD, celular, roupas, tênis, relógio, etc), que geralmente foi comprado pelo suor de mãe e pai, por “umas horas de doidêra no paraíso da pedra...”. Quando me pedem algo, a resposta é clássica e simples: “Bah meu, to a zero” claro, carregado de eufemismos e gírias só para não dizer escancaradamente que tu não gosta nem um pouco da cara deles, e que não vai contribuir com a morte de ninguém.
É nessas horas que eu sempre penso: “Se quer se matar, se mata sozinho porra!!”
A incrível diversidade cultural e social é o que mais impressiona nesse bairro . São pagodeiros para todo o canto, cantando a torto e a direito, muito mal por sinal, pagodeiras a noite inteira. Carros espalhados estrategicamente em cada rua do bairro rolando tudo o que o “povo gosta” (só o que há de bom na musica brasileira: funk, sertanejo e é claro, como todo o bom traficante pagando da malvado, Racionais Mc’s) em autofalantes superpotentes, não que eu tenha alguma coisa contra isso, mais escutar isso dia e noite é muito irritante. Pessoas com uma voz-ativa incrível também se encontram em meu bairro cheio de celebridades. Só faltam traficarem nos seus quartos e cozinhas de casa. Pois na minha porta já traficam. E é claro se falo algo, minha mãe chora, tripudia, me chama de louco e que não tenho amor à vida, somente por causa do medo que esse tipo de coisa impõe nas pessoas.
Sabe aquela política do “se não me fizeram nada, nada farei contra eles”?
Pois é... Essa é a lei que predomina em meu bairro. Um bairro que não é uma cidade por detalhe (só aqui se encontram 12 mil pessoas, divididos em 62 “apertamentos”). Se quiser se drogar é só ir ali e comprar. É “fast-food” e “aberto Vinte e Quatro horas” literalmente.
Crack? Ali mesmo.
Maconha? Ali mesmo.
Pitíco? Ali mesmo.
Mulheres que chupam por cinco pila? É claro, ali mesmo.
Vinte e quatro horas. A hora que quiser. Sem esperar muito. Mas é claro, sem garantia de bom negócio. De preferência não venha de bairros vizinhos, pode haver tiroteios, balas perdidas e o cacete. E é claro nem pense em fugir da policia ou dizer qualquer outra coisa, jamais diga para eles que você é um cara bom e trabalhador e que não faz nada senão respeitar a vida quando eles estiverem fazendo a já famosa por aqui “Girica”, os socos e pontapés podem doer bastante e as balas acabam nem sempre sendo perdidas e podem estourar o seu melão.
Aí você pode se perguntar: Onde está a consciência dessa gente? Como criar filhos em um local como esse?
É claro, muitos não tem escolha, pois não possuem meios de sair disso, e acabam se conformando com essa situação. Assim como na maioria dos bairros e cidades com esses problemas. Outros não estão nem aí. “Que dane-se os drogados mesmo e deixe os traficantes para lá, uma hora eles se matam ”.
[...]
Já fazem 14 anos que eu moro aqui. E nunca vi esse lugar tão podre como está agora e nunca o vi o tráfico tão fluente e descarado como está agora. Eu sou daquele grupo que se mata falando e ninguém escuta. Pois seguem aquela já fadada filosofia citada ali em cima. Então acabo me irritando com a ignorância das pessoas e finjo que não vejo essas coisas.
E você deve estar se perguntando agora:
“Porque que tu ta falando isso então seu idiota se tu não faz nada para ajudar?”
Esses fatos citados aqui são todos verídicos e bem comuns na sociedade brasileira, ou até bem piores, mais em um país tão lindo e ao mesmo tempo tão podre como esse, infelizmente as coisas acontecem assim: Todo mundo se fode por causa de drogas, corrupção, assaltos, educação defasada, etc e na maioria dos casos ninguém faz nada, ninguém diz nada. É assim em qualquer canto. Aí um dito cujo resolve falar alguma coisa contra esses “erros” brasileiros. “Ih, esse cara é louco” uns dizem. “Ah olha só esse cara pagando de bonzão, e é um merda que não caga nem cheira”. Ou ainda amanhece morto em qualquer beco por aí.
Tsc, Tsc, tsc....bom pelo menos eu escrevi alguma coisa, é um começo.
ARREVOÀ